terça-feira, 15 de abril de 2014

Aula do dia 9 de abril de 2014.
O que o autismo pode nos ensinar?
Podemos desdobrar a questão O que o autismo pode ensinar a nós psicanalistas? Em primeiro lugar, ele pode nos ensinar do ser-falante e, de sua peculiar forma de mutismo, ou de seu ser verboso, como no caso da ecolalia, que é a reprodução de uma fala, a qual nem sempre  compreenda o significado do que diz, e estas são as duas posições que têm diante da linguagem e principalmente, o modo como respondem a Um Real que lhe é próprio.
No campo da psicanálise, a escuta, a fala e o Amor, são os seus principais instrumentos de uso aplicados à clínica analítica, e todo o ensino da psicanálise se sedimentam a partir da experiência analítica, e esta diretiva da prática analítica a de um saber que não se sabe de antemão é o principal fator para que uma análise possa ocorrer. É com esta diretriz que nos dirigimos àquele que nos solicita um alívio, de um sofrimento, pela via da fala em análise. É marcando a posição analítica “de um não saber” já esboçada por Freud que se pretende ao longo do texto ir respondendo, trazendo a pluralidade das vozes dos analistas que ao longo de 6 décadas trabalharam com o autismo, além da diversidade de vários autistas que nos escrevem sobre o que é o autismo, assim a pergunta já no inicio de minha fala será respondida pela via dessa conversação. E, o autismo enquanto categoria clinica se encaixa aí, na medida em que há um consenso entre os especialistas de que a causa do autismo é ignorada: nem a desadaptação da aprendizagem, nem as disfunções no tratamento da informação, nem o desejo inconsciente dos pais, nem a genética, são capazes de explicar o seu gênesis, a sua origem. Estes pontos de concordância entre as linhas são pouco importantes, diante da amplidão das divergências. O método ABA se limita essencialmente a abordar comportamentos que se dedicam em normatizar, sem buscarem penetrar nas funções respectivas destes e sem se preocuparem com a vida afetiva do autista. Pelo contrário, o método TEACCH se apoia num funcionamento detalhado do funcionamento cognitivo do autista e as técnicas que desenvolvem se fundamentam explicitamente nisso. No entanto, nesta perspectiva a vida afetiva e o trabalho de proteção contra a angústia seguem com resultados impenetráveis. A abordagem psicanalítica é a mais heurística porque não deixa de lado nenhum aspecto de funcionamento do ser humano.
A debate entre o biológico e o psíquico, é um falso debate adverte-nos Éric Laurent, pois, mesmo que o sujeito sofra de um déficit, de uma deficiência, ele não deixa de ser sujeito. E, a sequela clinica no corpo podem provocar um “deixar cair” uma impossibilidade de chamada efetiva ao Outro e que pode conduzir ao rechaço ao Outro. Mesmo que ocorra algo no biológico isso não impede o espaço de sujeito como constituinte do ser falante.
Jacques Lacan em seu Seminário sobre As Psicoses, na pág. 16 nos alertava que ele havia nos seus últimos dois anos de ensino, desenvolvidos o campo do imaginário, do simbólico e do real, acrescenta: aqui o grande segredo da psicanálise é que não há psicogênese. Em relação a estes três registros nós o desenvolveremos ao longo deste curso assim como os gráficos que Lacan usa como escrita para sintetizar em uma fórmula a operação psíquica. Uma das fórmulas é a da constituição do sujeito, que para tal deve passar pela alienação e pela separação. Estes dois movimentos constituem o sujeito. A operação do sujeito também se trabalhará ao longo do semestre. No autismo encontramos uma parte do sujeito na alienação e sem que tenha passado pela separação. Retornando a que a psicanálise não supõe uma psicogênese, mas, até afirma o contrário disso, que é a importância do corpo para todo ser falante, ou como dizia Lacan, importância para o falasser que é parasitado pela linguagem. Encontramos em toda a Europa instituições de psicanalistas, principalmente lacanianos assim como, um grande número de pais e de autistas que puderam se apoiar na psicanálise, no lugar de ficarem sozinhos, numa batalha solitária e desgastante. Estes pais não só são acompanhados como pais, mas podem pela psicanálise elaborar a própria verdade subjetiva, como nos disse Laurent: irem mais além do desespero ante o qual poderiam sucumbir. Laurent propõe um reconhecimento da particularidade de um sofrimento sem que dele se faça uma identidade comunitária ou, simplesmente, anulá-lo considerando-o apenas, como uma causa “natural” sem relação nenhuma com o falasser. Enfim, trabalharemos sobre o lugar da psicanálise diante da epidemia do autismo contemporâneo. Esta epidemia revela a crise atual do instrumento globalizado da clinica psiquiátrica e neurológica, o DSM, Manual de Diagnóstico Estatístico Mundializado. A progressão epidêmica do autismo provocou um Mal-Estar nas classificações da clinica empírica e biológica do DSM. O meu colega Luiz Carlos Pinto Bueno desenvolverá um pouco mais este tema.
Retornando a pluralidade de ações, assim como, de interlocutores provenientes de múltiplos saberes. O que se visa na psicanálise é que cada criança elabore, com seus pais, um caminho próprio, para prossegui-lo na idade adulta.
Para tal, pretendemos além do conteúdo psicanalítico que norteará nosso estudo, nas próximas duas semanas detalharemos o nascimento da psicanálise como uma resposta ao discurso da ciência. E, de seu limiar à psicopatologia que norteava a clinica como desenvolveu Michel Foucault em vários livros, como O nascimento da Clinica, A história da Loucura e, outros. Nos anos de 1910 a 1913 Eugen Bleuler, da escola de Zurick,  aluno de Wilhelm Wundt foi o primeiro psiquiatra a se interessar pelas teorias de Sigmund Freud.  Bleuler escreve sobre A Demência Precoce ou o grupo das esquizofrenias, e Freud sobre o caso Schreber e Totem e Tabu. Freud se apoia em Schreber para distinguir a demência precoce da Paranoia. E que Jacques Lacan retomará em A questão Preliminar a todo tratamento possível da psicose.
O termo autismo como diz o próprio criador do conceito, Bleuler, é uma cisão na esquizofrenia, e que leva o indivíduo como uma crisálida a se fechar em si mesmo. Acrescenta Bleuler que o autismo se assemelha ao autoerotismo de Freud. No entanto o autismo de Bleuler tomou outras acepções, significações bem diferentes daquele Autismo que Kanner delimita a partir de sua clinica, como uma categoria nosológica autônoma.
Seguimos na posição de leitores de Temple Grandin e de sua invenção pela qual captura o seu corpo cujo objeto a lacaniano é bastante amplo para abarcar esta função de preservar uma relação fixa com o objeto que tanto o adota como dá forma ao sujeito.
Nesta dia 9 de abril veremos o filme de Temple Grandin que a retrata e que será para nós como um estudo de caso da Síndrome de Asperger. Como ela foi diagnosticada e o quão diferente era a seu olhar a ponto de vir a se tornar numa profissional brilhante em zootecnia. Hoje ela é professora na Faculdade do Colorado e se consagra a criação de dispositivos que atenuem o sofrimento dos animais que vão ser sacrificados no matadouro. Em seu livro Pensar com imagens, Temple Grandin afirma que seu pensamento se assemelha ao funcionamento do computador acrescentando que esse nasce do cálculo. O que leva Éric Laurent a considerar que se trata de uma forma de apresentar as regras da linguagem separadas de toda relação com o corpo, sem nenhuma opacidade. O que nos faz recordar remete Laurent a Chomsky, ao seu sonho de buscar as regras absolutas, já escritas, do funcionamento da língua.  Lembremos que pretendemos fundamentar sobre os testemunhos dos autistas o uso singular que cada um faz da letra na sua relação com o campo da linguagem e de sua diferença em relação ao campo da psicose. Aqui se esboça um dos tópicos que pretendemos desenvolver e que é o da clinica estrutural que permite situar o autismo como o estado originário do sujeito. O que nos leva a nos esforçarmos para tratarmos o sujeito autista e a apelarmos para que ele venha a inventar algo, este é o seu único remédio, o que deve incluir o resto que fica da relação dele com o Outro: seus objetos autísticos, suas estereotipias e seus duplos.
No caso de Temple Grandin ao propor modelos de cattle chute( pequeno curral) e de  squeeze chute. E as máquinas de abraçar que seriam como objeto transicional, como o brinquedo de criança pequena, aqueles de pelúcia, ou o paninho, que sempre trazem consigo e que os acalma. Temple relata que construía esta máquina para acalmar a angustia, mas que sempre lhe causavam um conflito, até um rechaço, o mesmo para os seu bichinho de pelúcia, recorda a mãe. Pretendemos neste curso desenvolver a importância do objeto autista assim como nos ensina Temple Grandin. 


Na Wikipédia Temple Grandin Mary Temple Grandin é uma mulher com autismo (de alto funcionamento), também conhecido como Síndrome de Asperger, que revolucionou as práticas para o tratamento racional de animais vivos em fazendas e abatedouros. Bacharel em Psicologia pelo Franklin Pierce College e com mestrado em Zootecnia na Universidade Estadual do Arizona, é Ph.D. em Zootecnia, desde 1989, pela Universidade de Illinois. Hoje ministra cursos na Universidade Estadual do Colorado a respeito de comportamento de rebanhos e projetos de instalação, além de prestar consultoria para a indústria pecuária em manejo, instalações e cuidado de animais. Atualmente ela é a mais bem sucedida e célebre profissional norte-americana com autismo, altamente respeitada no segmento de manejo pecuário2 .

Na juventude ela criou a "máquina do abraço", uma engenhoca para lhe pressionar como se estivesse sendo abraçada e que a acalmava, assim como a outras pessoas com autismo. Sua vida foi tema do filme Temple Grandin, em 2010, quando ela foi mencionada pela revista Time na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, na categoria dos "Heróis".3

Temple tornou-se uma profissional extremamente bem-sucedida. Projeta equipamentos e instalações para a pecuária. Todos os corredores e currais que desenha são redondos, pois o gado tem mais facilidade em seguir um caminho curvo - primeiro porque, não vendo o que há no fim do caminho, fica menos assustado; segundo porque o desenho curvo aproveita o comportamento natural do animal, que é descrever círculos. 4 Ela faz uma analogia: com as crianças autistas é preciso agir do mesmo modo, isto é, trabalhando a favor delas, ajudando-as a descobrir e desenvolver seus talentos ocultos. Ela já escreveu mais de 400 artigos publicados em revistas científicas e periódicos especializados, tratando de manejo de rebanho, instalações e cuidados dos animais.2
História
Visitando a fazenda de sua tia Ann no Arizona em 1966, Temple inicia seu primeiro contato com animais, que influenciariam sua vida e carreira. A jaula para prender bovinos a inspirou na construção de um aparelho para si própria para se refugiar de seus frequentes ataques de pânico.

Sua mãe Eustácia, mesmo com a recomendação médica de interna-la em uma instituição psiquiátrica, insiste em proporcionar-lhe educação formal. Em uma escola para crianças superdotadas é encorajada por seu professor de Ciências, o Dr.Carlock. Este percebe seu talento em "pensar em imagens e conectá-las", e a incentiva a prosseguir sua educação em uma universidade.














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